Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

31/10/2017

A defesa dos centros de decisão nacional (20) - Unintended consequences (VII)

[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7),  (8), (9), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16), (17), (18) e (19)]


Recordemos os inúmeros manifestos pela defesa dos centros de decisão nacional, alguns deles assinados por empresários que passado algum tempo venderam a estrangeiros as suas empresas, recordemos as declarações vibrantes de patriotismo e as declarações inchadas de indignação da esquerdalhada em geral, incluindo socialistas, quando o governo «neoliberal» vendeu empresas por imposição do memorando de entendimento assinado pelo PS e resultante do resgate a que conduziu a governação de José Sócrates durante seis anos.

Recordado isso, estamos em condições de apreciar o «roadshow internacional para vender os grandes projetos portuários portugueses» que a ministra do Mar começou ontem em Pequim na companhia de 40 empresas nacionais para apresentar esses projectos a investidores chineses.

É claro para quem não se descola da realidade que esta necessidade de vender o país aos retalhos surge incontornavelmente pelo endividamento gigantesco de públicos e privados e pela consequente descapitalização da economia portuguesa, consequência de décadas a viver acima das posses. Dois anos atrás e teríamos comunistas e berloquistas a uivaram indignações, esperemos para ver como reagem agora que têm o rabo preso na geringonça.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Marcelo & Costa, Lda.

«Estamos portanto no momento de maior poder para Marcelo e isso não é uma boa notícia para o país. Não estão em causa a sensibilidade e a generosidade do cidadão Marcelo Rebelo de Sousa. Nem o seu encanto, a sua cultura, a sua graça ou a sua inteligência. Acontece que as qualidades que levam a que todos gostássemos de ter Marcelo como professor, convidado para o jantar ou como vizinho não chegam para fazer dele um bom Presidente da República. Muito particularmente a sua dependência da popularidade que o tornou um excelente contacto para jornalistas e frequentadores da praia do Guincho, leva-o ora a tomar posições com uma ligeireza pueril ora a adoptar com uma volatilidade cruel o ponto que lhe é mais favorável no julgamento dos comentários do dia: a diferença de atitude de Marcelo Rebelo de Sousa face aos incêndios de Junho (Pedrogão) e de Outubro é reveladora dessa gestão das circunstâncias em função da sua popularidade: depois de ter andado com Costa ao colo, Marcelo desembaraça-se dele.

Do outro lado está António Costa que oscila entre a rudeza jacobina nos momentos em que sente forte e o acabrunhamento egocêntrico de quem, tendo sido sempre protegido, não consegue enfrentar as dificuldades. A frase “admito ter errado na forma como contive essas emoções” a propósito dos incêndios é digna de um consultório sentimental não de um chefe de governo. Morrem mais de cem pessoas em parte por falhas do Governo e a palavra responsabilidade continua a não ser pronunciada por António Costa. O que ele assume é ter contido as emoções. Estamos bem servidos! Ou seja Costa arrepende-se de não ter feito como Marcelo e ido por esse Portugal fora abraçando e beijando. Neste momento aliás não há líder que não se sinta compelido a imitar Marcelo.»

Excerto de «Os populares», Helena Matos no Observador

30/10/2017

Títulos inspirados (72) - Não serão três?

«Web Summit: Lista de oradores inclui António Guterres e dois ‘robots’»

Dado o débito vocal acelerado de Guterres, o actual SG da ONU poderia bem passar por um terceiro.

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (107)

Outras avarias da geringonça.

Já me têm perguntado se não seria preferível mudar o título desta crónica, já no seu 107.º episódio, dada a longevidade alcançada pela geringonça. Que não, tenho dito, e trago hoje em meu socorro Gonçalo Pistacchini Moita da UCP que num artigo de opinião muito a propósito intitulado «Ensaio de palestra popular sobre a estratégia e a tática marxistas» (o subtítulo que originalmente tinha o conhecido panfleto de Lenine «A doença infantil do “esquerdismo” no comunismo») escreveu:

«Socialistas, comunistas e esquerdistas, com efeito, têm como único programa (como agora voltará a ver-se no orçamento do Estado para 2018) a reversão daquilo que, enquanto primeiro-ministro, Passos Coelho fez ou terá feito. Em nada mais conseguirão pôr-se de acordo, pelo que a possibilidade da sua ação tem a duração limitada pela memória que os portugueses tenham das maldades que, segundo eles, Passos Coelho lhes fez.»

29/10/2017

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: L'État c'est lui

Os mais de 2 mil delegados ao congresso do Partido Comunista da China que terminou esta semana passada aprovaram incluir o nome e o pensamento de Xi Jinping nos seus estatutos, colocando-o no mesmo patamar de Mao Zedong, fundador e divindade da religião maoista. Perguntados se tinham alguma objecção à consagração nos estatutos do «Pensamento de Xi Jinping sobre o Socialismo com Características Chinesas para a Nova Era» os delegados responderam com gritos de meió  (nenhum), como mostra o vídeo publicado pela BBC.

É interessante constatar que entre os países alguma vez dirigidos por um partido comunista a China é o único bem sucedido no campo económico ao substituir o comunismo por um sistema capitalista de direcção central, dominado por uma poderosa nomenclatura de apparatchiks liderada por um ditador de facto. Isto foi possível graças ao génio de Deng Xiaoping. Em contraponto, os russos tiveram um Mikhail Gorbachev que tentou salvar o sistema soviético injectando-lhe democracia, sem perceber não ser possível ter sol na eira e chuva no nabal. O seu idealismo levou a Rússia a ficar com sol no nabal e chuva na eira e uma plutocracia administrada pelo czar Putin.

28/10/2017

Vivemos num estado policial? (14) - Sim, vivemos. E talvez por isso os polícias nunca são suficientes

Outros casos de polícia.

Recapitulando:

Segundo o relatório da OCDE divulgado em Fevereiro, Portugal «tem 432 polícias por 100 mil habitantes, um valor que torna a polícia portuguesa 36% mais bem equipada do que as polícias na média dos países europeus» (jornal Eco). Note-se que os GNR são polícias com outro nome e são contados como tais nas estatística da OCDE. Acrescente-se que na Europa só somos ultrapassados por Malta e a Irlanda do Norte.

Novos desenvolvimentos:

Semanário de Reverência

Repare-se como as causas podem avariar o cérebro do jornalista de causas: «o número de agentes efectivo é o mais de reduzido sempre (...) mas ainda superior ao registado em 2015». De sempre? Perguntareis. Sim, porque o sempre só começa a contar em 26 de Novembro de 2015 quando Costa foi entronizado às cavalitas de Jerónimo e Catarina. Seja como for, não vos inquieteis porque o governo tratará de contratar mais utentes da vaca para nos manter no topo do ranking dos Estados mais policiados.

27/10/2017

ACREDITE SE QUISER: Worten, um palco para as lutas sindicais da função pública

Esta sexta-feira deu-se mais uma greve-com-ponte da função pública. Segundo a camarada Avoila teve uma adesão de 80% e na Saúde e Educação chegou aos 90%. Deve ter sido mais um sucesso para a Worten que nos dias de greve costuma fazer, e fez uma vez mais, promoções especiais dedicadas aos utentes da vaca marsupial pública que aproveitam a folga e vão para a lojas lutar pelas melhores promoções de gadgets.

Pro memoria (363) – A mitologia esquerdista do agravamento das desigualdades em Portugal durante o governo PSD-CDS

No paper «The Political Economy of Austerity in Southern Europe», publicado em Setembro no New Political Economy, Sofia A. Perez e Manos Matsaganis demonstraram «que houve uma variação significativa na magnitude e no desenho da austeridade, com a Itália impondo um ajuste muito menor do que a Espanha, e Portugal com menos desigualdades apesar de uma consolidação fiscal robusta. No entanto, mesmo quando as medidas de austeridade foram projectadas para reduzir a desigualdade ao comprimir os rendimentos, os seus efeitos macroeconómicos de segunda ordem aumentaram a desigualdade (excepto em Portugal.

Não por acaso, o paper de Sofia A. Perez e Manos Matsaganis foi citado (com algum detalhe e extensão) nos mídia portugueses unicamente pelo Observador. Até agora nenhum jornalista de causas se deu sequer ao trabalho de referir um estudo que contraria as teses tão trombeteadas até à ascensão de Costa ao governo às cavalitas de comunistas e bloquistas.

Estas conclusões vão no mesmo sentido das que apresentei neste post de há três anos que agora republico.

Mitos (170) – A crise agravou as desigualdades, teve efeitos mais graves em Portugal e os pobres foram os mais afectados e entre eles os idosos

26/10/2017

AVALIAÇÃO CONTINUA: Ficou-lhe a alma para trás

Secção Padre Anchieta

Corria o ano de 1554, num certo dia, numa breve parada, após longa, acelerada e extenuante caminhada para Reritiba à frente dos Tupis que lhe carregavam as trouxas, o Padre Anchieta deu-se conta que os índios, sentados sobre as suas tralhas se recusavam a recomeçar. Perguntando-lhes o porquê, explicaram-se os Tupis, com grande soma de pachorra, que na rapidez da caminhada a alma lhes tinha ficado para trás e tinham precisão de esperar por ela.

Vem esta lenda, que inspira a secção, a propósito do nosso primeiro-ministro que descobriu recentemente, após 110 mortos, que a sua pose arrogante não era muito apreciada nestas alturas dramáticas. E foi assim que, inspirado na pose do presidente dos Afectos que tem tido imenso sucesso, resolveu fazer um facelift e iniciar uma peregrinação pelos Cus de Judas ou pelo Portugal Real, como se dizia nos anos 80.

Começou em Pedrógão Grande e continuou pelo distrito de Coimbra a distribuir sorrisos e abraços como este aqui ao lado, a espalhar afectos, a anunciar o maná dos subsídios, a enumerar os milagres que já foram feitos e os que ainda haveriam de ser até ao Natal.

O Semanário de Reverência descreve aqui, com grande soma de pormenores e muita poesia, a descida de Costa até ao Povo prometendo que «o bacalhau já será nas casas».

Infelizmente para os resultados futuros da digressão, Costa não tem o talento do Ti Célinho e, à força de querer parecer outro, pode acabar por não saber quem é, deixar a alma para trás e perder a pouca autenticidade que ainda lhe resta quando se mostra no seu estado natural - a arrogância.

Por tudo isso, ofereço-lhe em quantidades discricionárias chateaubriands (por confundir os Cus de Judas com Lisbolha), pilatos (por ter lavado as mãos das suas responsabilidades pessoais e directas no desastre do combate aos incêndios - recorde-se aqui e aqui) e ignóbeis (pelo postiço dos afectos e dos abraços).

25/10/2017

Pro memoria (362) – gone with the wind (republicação e actualização)

seis anos publiquei o seguinte post:

Ao ler no Expresso a promoção de mais um futuro sucesso das empresas amigas do regime, levo sempre instintivamente a mão à carteira. Desta vez, com honras de uma chamada de meia primeira página do suplemento de Economia e um desenvolvimento noutra página completa, amplamente ilustradas com duas enormes fotos, é o projecto Windfloat da EDP – um gerador eólico Vestas montado numa estrutura sobre uma plataforma flutuante, a ser construída na Lisnave em Setúbal e destinada a ser ancorada ao largo da Póvoa do Varzim. O brinquedo custa 15 milhões segundo o Expresso ou 20 milhões segundo outras versões.

Falece-me o tempo e a ciência para escalpelizar as razões da minha suspeição quanto ao sucesso desta inovação e sobretudo à sua viabilidade económica. Direi apenas que este projecto me reavivou a memória do projecto Pelamis, naufragado também ao largo da Póvoa do Varzim, em tempos uma das meninas dos olhos do ex-ministro Pinho (o dos corninhos) e agora enferrujando ao largo de S. Pedro de Moel, salvo erro.

Por agora, registo para futura verificação.

Verificação seis anos depois:

«Até 2019, o parque eólico flutuante que o consórcio liderado pela EDP quer instalar ao largo de Viana do Castelo tem de estar ligado e a produzir energia de fonte renovável. O risco de falhar o prazo é o de o projecto Windfloat Atlantic, cujo custo estimado ronda os 115 milhões de euros, perder os fundos comunitários de 30 milhões atribuídos em 2012 pelo Programa NER300.» (fonte)

Repare-se o efeito Lockheed Tristar em todo o seu esplendor. Um projecto eventualmente inviável que custaria 15 ou 20 milhões há seis anos custará agora 115 milhões ou seis a oito vezes mais. À maneira habitual, provavelmente irão ser gastos ainda mais do que os 115 milhões para não perder os 30 milhões de fundos comunitários. Foi assim que uma parte significativa dos mais de cem mil milhões de subsídios comunitários pagos extorquidos aos contribuintes europeus, o equivalente a mais de 55% do PIB anual actual, foi delapidada.

24/10/2017

Pro memoria (361) - O governo como colecção de amigos de Costa

«Eduardo Cabrita, novo ministro da Administração Interna, Pedro Siza Vieira, novo ministro adjunto, e o ministro sombra Diogo Lacerda Machado foram colegas de António Costa na Faculdade de Direito de Lisboa. O mesmo aconteceu com José Apolinário, secretário de Estado das Pescas. Ana Paula Vitorino, ministra do Mar, é mulher de Eduardo Cabrita. Um dos secretários de Estado do Ministério das Finanças – António Mendonça Mendes, Assuntos Fiscais – é irmão de Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS. Carlos César pontifica na Assembleia da República e, como sabemos, dentro do seu agregado familiar falta somente ao periquito conseguir a integração nos quadros da função pública.

Vieira da Silva é ministro da Segurança Social e a sua filha, Mariana Vieira da Silva, secretária de Estado adjunta do primeiro-ministro. O ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, é filho de José Matos Fernandes, antigo secretário de Estado da Justiça de Vera Jardim. Guilherme W. d’Oliveira Martins, secretário de Estado das Infraestruturas, é filho de Guilherme d’Oliveira Martins, triplo ministro de António Guterres. Mário Centeno, ministro das Finanças, não é filho de nenhum socialista famoso, mas anda há dois anos a obedecer às ordens do Largo do Rato – ainda assim, António Costa colocou Fernando Rocha Andrade, seu homem de confiança, a vigiá-lo. O ministro da Educação é um jovem que deve a António Costa a carreira política. O ministro da Saúde deve-lhe o mesmo, mesmo não sendo jovem.»

Ver mais amigos no artigo de João Miguel Tavares «Isto é um governo ou o clã de António Costa?»

¿Por qué no te callas? (21) - Exercícios

Exercício a dois
Exercício de hipocrisia de Costa forçado a engolir a bazófia habitual depois de ter sido entalado pelo Ti Célinho:

«Se quer que eu peça desculpas, eu peço desculpas» disse Costa no parlamento. Dois dias depois superou-se a si próprio e acrescentou «admito ter errado na forma como contive essas emoções».

Exercício de ligeireza e manobrismo de Ti Célinho para confortar Costa que ambos sabem se irá vingar pela humilhação as soon as possible:

«Entre hoje de madrugada e hoje de manhã estive a analisar as medidas do Conselho de Ministros. Quero sublinhar a forma rápida e tão abrangente como o Conselho de Ministros quis tratar de tudo e de tantos dossiês em tanto pouco espaço de tempo”, disse Marcelo Rebelo de Sousa no dia seguinte a terem sido aprovadas à pressão e em cima do joelho resmas de medidas que, muito provavelmente, são um perfeito disparate diz quem sabe. A coisa não vai lá com facilitismo e não há milagres.

23/10/2017

Dúvidas (208) - Para que servem dois partidos de protesto que não protestam?

«Tanto na Soeiro Pereira Gomes como na Rua da Palma, os dirigentes da extrema-esquerda sabem bem que umas eleições legislativas antecipadas iriam ditar uma diminuição abrupta dos dois grupos parlamentares. Afinal, para que servem dois partidos de protesto que agora têm medo de protestar?

Acontece que BE e PCP estão bloqueados no seu próprio desespero. Como já aqui escrevi anteriormente, não podem protestar para não afetar o governo que apoiam e não podem deixar de ser partidos de protesto, senão perdem a sua razão de existir.»

Pergunta-se João Gomes de Almeida e responde (e eu com ele) servem de «muletas de um governo PS, travestidas de oposição».

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (106)

Outras avarias da geringonça.

Não vou gastar mais cera com tão ruim defunto. Depois de 110 mortos e três relatórios independentes, o colapso do governo em geral e da Protecção Civil em particular é demasiado óbvio, salvo para os 52% dos portugueses que vivem prisioneiros nas suas bolhas.

Pelas mesmas razões não vou esmiuçar a comédia do material de Tancos, que no limite poderia não ter sido furtado e que apareceu na Chamusca por indicação de um denunciante anónimo que o primeiro-ministro se esqueceu de felicitar. Talvez valha a pena acrescentar que a comédia de Tancos, em cena há vários meses, foi precedida de uma outra, só agora chegada ao palco: a GNR recuperou umas miudezas (cinco toneladas de peças de um carro de combate) furtadas do Campo Militar de Santa Margarida, que também apareceram ainda antes do caso de Tancos numa sucata na Chamusca. A Chamusca vê-se assim promovida a uma espécie de armazém de reserva das forças desarmadas portuguesas.

22/10/2017

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (47) - Os vários marcelos de Marcelo

Outras preces.

Agora que Marcelo Rebelo de Sousa atingiu a aprovação quase unânime com a declaração de Oliveira do Hospital em que entalou o governo, irritou a esquerdalhada (que rosna em silêncio a sua raiva contida pela popularidade do PR) e deixou excitada a não esquerda à beira de uma ejaculação precoce, torna-se ainda mais importante tentar um retrato de MRS sem as espessas camadas de maquilhagem mediática.

É por isso de leitura obrigatória o que disse em entrevista ao Expresso de ontem Carlos Blanco de Morais, seu aluno e assistente e de quem MRS foi orientador da tese de doutoramento. Lá se encontram os traços que por aqui temos apontado como perigosos num PR: a volubilidade, o catavento mediático, o populismo ("inclusivo") e a obsessão pela popularidade, o manobrismo, o calculismo e a frieza por trás da fachada dos afectos. Aqui vão alguns excertos. Não digam que não foram avisados.

«Depois do que aconteceu é difícil que continue a sua função de escudo ou para-raios. O que não quer dizer, até tendo em vista a idiossincrasia e psicologia do PR, que é muito fluida e por vezes volúvel, que tenha rompido com a atual coligação. Tenho as maiores dúvidas. (…)

Que eu designei como semipopulismo porque o PR capta e diz aquilo que a população quer ouvir e isso faz parte das características do populismo. A sua conduta e gestos de natureza simbólica marcam esse entrosamento entre o chefe de Estado e a população comum. Só não será populismo porque os populistas operam habitualmente através de uma dicotomia amigo-inimigo, fixam a existência de um adversário. O PR não, tem um discurso inclusivo. A ideia não é estabelecer um inimigo, mas resolver problemas e captar todas as dificuldades, anseios e vender alguns sonhos. (…)

É um populismo de escalão mais entrosado com a população comum, o que implica uma mistura entre sensibilidade pessoal e teatro, que gere admiravelmente. (…)

O PR até agora usou muito pouco os seus poderes jurídico-constitucionais, teve uma função tribunícia, fez advertências, usou da palavra e da sua proximidade. Aí, inflou a sua popularidade. A estratégia presidencial desta 'cooperação de veludo' foi entrosar-se com o Governo apanhando o embalo do estado de graça deste, inflando a sua popularidade e em função dela pretende usá-la politicamente, convertendo esse acumulador de popularidade numa manifestação de autoridade. (…)

A ideia de que o Presidente fez agora uma ameaça de dissolver o Parlamento é um mero desejo. O PR é muito flexível, respira política 24h por dia e é cauteloso. Só dissolveria com a certeza clara de que o partido do poder não retornaria mais forte ou em coligação. (…)

Se há alguém que faz cálculos políticos e não atua emotivamente é o PR. A gestão de afetos faz parte da sua estratégia presidencial, mas a idiossincrasia do Presidente é fria e de jogador. (…)

O comentador não morreu na figura do PR, foi apenas reconvertido numa função tribunícia. (…)

Mesmo para os 'marcelólogos', o PR é sempre imprevisível. Ninguém pode estar seguro em momento nenhum de qual vai ser a sua conduta. A única coisa de que se pode ter a certeza é de que nunca afrontará de forma ostensiva o vento da opinião pública.»

21/10/2017

Um dia como os outros na vida do estado sucial (33) - A cada um a sua bolha

Como é sabido, o material de Tancos que, segundo o ministro, no limite poderia não ter sido furtado e que a  Polícia Judiciária Militar e a Guarda Nacional Republicana procuraram em vão durante três meses e meio, foi encontrado na Chamusca a partir de uma denúncia anónima.

Segundo o Expresso, o primeiro-ministro Costa, felicitou ontem «o trabalho desenvolvido pela Polícia Judiciária Militar (PJM) e pela Guarda Nacional Republicana (GNR)» que consistiu em ir ao local indicado pelo denunciante anónimo recolher o material que no limite poderia até não ter sido furtado. O facto de não ter felicitado o denunciante anónimo confirma que Costa vive na Lisbolha.

Estudo de opinião da Eurosondagem nos dias 16 a 18 (Fonte Expresso)
O facto de, depois de dois incêndios devastadores que mataram 110 pessoas, ter ficado patente e reportado em três relatórios independentes o falhanço completo da Protecção Civil e do governo, 52% dos portugueses confiarem na Protecção Civil ou não saberem se hão-de ir ao WC ou dar corda ao relógio só é explicável por esses 52% dos portugueses viverem dentro das suas próprias bolhas.

20/10/2017

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: O socialismo costista e a engorda do Estado para sustentar a clientela (2)

«O problema vem ao de cima quando tentamos ver os actos dessas palavras. É enorme a distância entre aquilo que se diz que se faz e aquilo que realmente é concretizado. A coesão social, o combate à pobreza e a promoção da igualdade limitam-se ao segmento do mercado eleitoral urbano que faz mexer o ponteiro dos votos. Os outros ficam ao abandono, como dolorosamente vimos na morte e na vida de quem esteve dentro dos incêndios do fim-de-semana.

A situação agrava-se quando as lideranças governamentais ou mesmo parlamentares são um círculo fechado onde quase todos andaram no “liceu” com quase todos, conheceram os pais ou até os avós, conviveram ao longo de anos por laços de amizade ou familiares. O seu mundo é aquele minúsculo universo de amigos e conhecidos que confundem com o país. As suas prioridades de governo da comunidade são hierarquizadas de acordo com o que conseguem ver nesse seu mundo, infantilizando os seus concidadãos.

Excerto de «Uma tragédia escolhida por nós», Helena Garrido no Observador

O socialismo de Costa sustenta-se da vaca marsupial pública e vive a huis clos na Lisbolha.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: O socialismo costista e a engorda do Estado para sustentar a clientela

«É verdade: a sorte, nos últimos vinte anos, deixou sempre António Costa e os seus correligionários governar quando havia algum dinheiro para gastar, como agora. Mas o importante não é a sorte, mas o que fazem eles actualmente com essa sorte. Outrora ainda prometiam “mudança” e “reformas”. Agora, reduzem o Orçamento de Estado a um orçamento de campanha eleitoral. Em que acreditam? Aparentemente, que a melhor maneira de controlar este país envelhecido e endividado é concentrar os recursos no Estado e favorecer com eles o funcionalismo público e os pensionistas mais bem pagos. Tudo o mais pode ser sacrificado, até essa velha vaca sagrada do SNS, como notou o Tribunal de Contas.»

Excerto de O governo da desistência nacional», Rui Ramos no Observador

A «vaca voadora» de Costa é a vaca marsupial pública, que nunca voou e não voará porque nas suas túrgidas tetas está pendurada a clientela eleitoral.

19/10/2017

A mentira como política oficial (37) - De "ninguém quer" a "inevitável" em apenas 40 horas

Negócios e Jornal de Notícias (via Insurgente)

Até para os marxistas-leninistas-trotskistas-maoístas é demasiado. Estão tão apegados ao poder que se o Costa cai e tiverem de voltar às direcções das associações de estudantes, às redacções dos jornais e aos teatros vão ter de fazer uma cura de desintoxicação e tomar metadona.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Costa enfiado na Lisbolha

«Quando olhamos para os seus dois anos como primeiro-ministro, aquilo que vemos é uma gestão política confinada ao eixo Terreiro do Paço-São Bento, com incursões pontuais a Bruxelas. O governo leva muito mais tempo a reunir com o Bloco e com o PCP do que a pensar no futuro de Portugal, até porque as grandes reformas estão bloqueadas à esquerda. A chamada “geringonça” é uma máquina carente de assistência técnica permanente, pelo que não é de espantar que quando o país real telefona para São Bento a linha esteja ocupada. Não são só os bombeiros e a GNR que não conseguem contactar a Protecção Civil – o Portugal profundo também não consegue falar com o primeiro-ministro.

António, rapaz de Lisboa, começou na política aos 14 anos, aos 22 já estava na Assembleia Municipal, e excepto o curto ano em que foi deputado europeu sempre viveu e trabalhou nos meios políticos da capital. A falta de empatia de António Costa após a dupla tragédia deste Verão pode ter a ver com isto: o primeiro-ministro sempre olhou para o país a partir do Terreiro do Paço. Foi tanta a frieza com que reagiu ao apocalipse do fim-de-semana que é como se o Portugal profundo fosse para ele uma entidade abstracta, tão distante como as colónias para Salazar. Costa vive e respira dentro de uma bolha política, que ele domina como ninguém. Quando as arestas da realidade mais bruta explodem essa bolha, o que sobra do primeiro-ministro? Ainda é cedo para uma avaliação final, mas até agora sobrou muito pouco.»

Excerto de «António Costa, primeiro-ministro de Lisboa», João Miguel Tavares no Público 

18/10/2017

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (46) - Too little? Too late?

Outras preces.

«Se na Assembleia da República há quem questione a capacidade do atual Governo para realizar estas mudanças que são indispensáveis e inadiáveis, então, nos termos da Constituição, esperemos que a mesma Assembleia soberanamente clarifique se quer ou não manter em funções o Governo».

Marcelo Rebelo de Sousa em Oliveira do Hospital (TVI24)

Se não too little, pelo menos um too late perdido no meio do too much que tem sido a verborreia presidencial.

Pro memoria (360) - Homem prevenido vale por dois

Quando era presidente da câmara de Lisboa, Costa dizia «não existe solução» para as inundações na cidade. Deixou a câmara entregue ao afilhado Medina e logo se propôs prevenir o que não tinha solução.


Como ministro responsável pela adopção do SIRESP no governo de José Sócrates e primeiro-ministro responsável pelo falhanço em todo a linha da resposta do governo aos incêndios deste ano que mataram mais de uma centena de pessoas, Costa recuou três anos e repetiu a ladainha. Não tem emenda.

17/10/2017

Pro memoria (359) - Os incêndios são todos iguais mas há uns mais iguais do que outros (I)


Em 2015, na vigência do governo PSD-CDS, tinham ardido até 31 de Julho menos de 30 mil hectares de floresta e houve 2 vítimas, uma das quais bombeiro. BE e PCP produziram indignados comunicados, como os citados acima.

Em 2017, na vigência do governo do PS, coligado na geringonça com BE e PCP, até hoje arderam 225 mil hectares de floresta ou 316 mil hectares segundo a Comissão Europeia, isto é 7 ou 10 vezes mais do que em 2015. Este ano morreram 64 pessoas nos incêndios de Pedrógão e até agora 41 pessoas nos incêndios do fim de semana passado, isto é 50 vezes mais do que em 2015.

Alguém escutou os pedidos de desculpa de socialistas ou os protestos de bloquistas e comunistas? O ruído do silêncio dos outrora indignados BE e PCP é ensurdecedor.

ACREDITE SE QUISER: O pénis como construção social resultante da heteronormatividade patriarcal

«Em Maio do corrente ano, dois outros académicos, Peter Boghossian e James Lindsay, decidiram renovar a partida académica e submeteram um trabalho para a Cogent Social Sciences, revista indexada nos principais meios de divulgação científica. Defendem os autores que o órgão genital masculino, o pénis, é, em boa verdade, uma construção social. Fazem-no «através de um criticismo discursivo pós-estruturalista detalhado e do exemplo das alterações climáticas».

O artigo, referem ainda no resumo, «questiona a prevalente e prejudicial mistificação social de que os pénis são melhor entendidos como órgãos sexuais masculinos, e atribuir-lhe-á um papel mais adequado enquanto tipo de desempenho masculino». Dadaísta? Era esse um dos objectivos — testar a filtragem do nonsense na arbitragem por pares nas revistas do género. O artigo foi aceite e publicado, tendo sido removido apenas após os próprios autores fazerem a denúncia do caso.»

Relatado por Mário Amorim Lopes em «A Guerra dos Géneros e as falsificações científicas»

16/10/2017

ESTADO DE SÍTIO: Vaticangate

«A prosecutor called it “a case of surprising opaqueness, of silences and terrible mishandling of public money”. The conviction on Saturday of Giuseppe Profiti, ex-president of a Vatican-owned children’s hospital, for misusing his position to divert €422,000 ($499,000) from its funds, is a reminder of a dark side of the Catholic Church at odds with the ascetic modernising of Pope Francis. The money was to be used to refurbish the penthouse retirement apartment of the former Secretary of State, Cardinal Tarcisio Bertone, once the second-most-powerful man in the Church. Mr Bertone denied knowing of the hospital’s involvement and says he spent around €300,000 of his own, whereas the diverted cash went to the builder’s British-registered company. Yet the court heard that Mr Bertone had bypassed Vatican rules by hiring the builder, a friend, without seeking rival quotes. Curiously, the cardinal was not called to testify

The Economist Espresso

The cardinal was not called to testify. Why's that?

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (105)

Outras avarias da geringonça.

O que podemos concluir do relatório da comissão técnica independente dos incêndios de Pedrógão Grande? Resumindo o essencial: (1) incompetência de um primeiro-ministro de um governo incompetente na respostas aos incêndios; (2) grande competência do primeiro-ministro como ministro da propaganda ao divulgar o relatório entre as eleições autárquicas e a apresentação do orçamento, garantindo deste modo o seu desaparecimento mediático.

O que podemos concluir do orçamento apresentado? Que o governo empurrado pelas greves da ASAE. pelos avisos de greve da Fenprof, pelo endurecimento prometido pela CGTP, pela greve da função pública de 27 de Outubro, pelos protestos das forças de segurança e pela «grande manif nacional», capitulou em toda a linha às exigências dos seus parceiros da geringonça.

15/10/2017

Lost in translation (298) - Entraves ao pluralismo em socialês

«Entraves ao pluralismo levam serviços da ERC a propor chumbo ao negócio Altice-TVI»

«Relatório preliminar dos serviços do regulador dos media identifica possíveis entraves ao pluralismo e à diversidade no mercado se a compra da TVI pela Altice avançar nos moldes anunciados. Documento ainda está a ser finalizado e o Conselho Regulador da ERC pediu mais uma semana para anunciar a sua decisão

Tendo em vista que a ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social foi criada em 2005 em pleno consolado socratês, um consolado que assistiu à mais vasta tentativa de controlo dos mídia por um governo desde dona Maria II, governo do qual foi Ministro de Estado e da Administração Interna António Costa, o actual primeiro-ministro que tem como ajudante na Defesa Azeredo Lopes, primeiro presidente da ERC, nomeado por coincidência por José Sócrates, a expressão «entraves ao pluralismo» no dialecto socialês pode ser traduzido como «há dúvidas que a TVI controlada pela Altice possa ser usada como uma câmara de eco do governo do nosso primeiro Costa».

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Distraído, mentiroso ou medroso? (2)

Republicando e actualizando.

Secção Musgo Viscoso

Para alguém que anda na política há mais de duas décadas, foi secretário de Estado de Guterres e ministro de Sócrates da Economia, primeiro, e das Finanças, depois, fazer um depoimento como o que fez na comissão de inquérito à Caixa só pode ser distraído, mentiroso ou está sob ameaça do animal feroz.

Respigo um entre muitos outros exemplos. Depois de há duas semanas o seu antecessor como ministro das Finanças de Sócrates ter admitido ser pressionado pelo animal feroz para nomear para a Caixa Santos Ferreira e o seu amigo Vara, Teixeira dos Santos diz que foi coincidência ter ele próprio nomeado a mesma dupla. Quanto a Vara explicou que «fez carreira na Caixa, era director, tinha conhecimento dos cargos de direção da Caixa e capacidade de liderança. Fazia a ligação entre a administração e a Caixa e sinalizava que os quadros da Caixa poderiam chegar à administração». Inexplicavelmente nenhum deputado presente na comissão de inquérito vomitou.

[Actualização:
Tudo isto que já era conhecido, soube-se agora que está documentalmente confirmado pela carta de demissão de Campos e Cunha, cujo original retido por Sócrates foi apreendido em sua casa. A carta justificava o pedido de demissão com a «pressão sistemática relativa à substituição da Administração da CGD» e explicitava que a nomeação de Vara para a administração «é contrária às reformas de que este Grupo necessita».
Há uma passagem dessa carta de Campos e Cunha em que escreve «recuso-me a alterar pessoas sem uma estratégia». Se Teixeira dos Santos tivesse dito isso a Sócrates, o animal feroz poderia ter respondido «eu tenho uma estratégia» - a estratégia que Teixeira dos Santos obedientemente se dispôs a aplicar e que deu o que sabemos que deu.]

Com esta audição, Teixeira dos Santos merece cinco urracas pela falta de tomates, cinco bourbons por continuar igual a si próprio, cinco pilatos por ter passado o tempo a lavar as mãos das responsabilidades, e só não lhe atribuo cinco ignóbeis por não ter conseguido perceber se é distraído, mentiroso ou medroso.

Que a criatura com a sua songamonguice tenha conseguido atingir um estatuto de intocável do regime, depois das suas enormes responsabilidades no desastre socrático, diz mais sobre as nossas elites do que sobre ele próprio.

14/10/2017

DIÁRIO DE BORDO: Limpando a folha do maior vigarista deste século

De como a convivência do diletantismo com o egocentrismo e a escassez de senso comum pode limpar a folha do político mais trapaceiro deste século e que mais danos infligiu a este Portugal dos Pequeninos.

CASE STUDY: Trumpologia (25) - Donaldo torna credível a grafologia

Mais trumpologia.

Conferência de imprensa onde Donaldo mostra a ordem executiva por ele ilustrada assinada que
elimina os subsídios previstos na Obamacare para as famílias pobres comprarem seguros de saúde

13/10/2017

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (164) - Sócrates? Quem?


«Em primeiro lugar, o silêncio incomodado do PS, que continua a fazer de conta que este assunto não lhe diz respeito. Só que não estamos a falar de um qualquer autarca acusado de corrupção. Estamos a falar de  José Sócrates, antigo líder do partido e ex-primeiro ministro, que é acusado pela Justiça de numerosos crimes alegadamente praticados durante o exercício de funções. Em Governos de que fizeram parte o primeiro-ministro António Costa e outros membros do atual Executivo.

Das duas uma, ou Sócrates é inocente e o PS o apoia incondicionalmente até à decisão final da Justiça, como sempre fez enquanto o “menino de ouro” venceu eleições; ou Sócrates é culpado e o PS tem de fazer um mea culpa e assumir responsabilidades.

O que não é aceitável é este limbo, este silêncio, este não querer atravessar-se por alguém que o partido apresentou aos portugueses como sendo o homem providencial que iria salvar o país. Nem tão pouco admitir que se possa ter errado nesse endosso.  (...)

Em segundo lugar, na Operação Marquês não estão em causa apenas questões criminais. Há também questões éticas de relevo. Vamos supor que o Ministério Público está errado e que Carlos Santos Silva se limitou a emprestar dinheiro a um amigo em necessidade. Já sem falar dos valores em causa – 500 mil euros? – o PS acha aceitável que um primeiro-ministro passe férias de luxo pagas por um amigo empresário que, por acaso, tem negócios milionários com entidades públicas? Mesmo que não tenha existido crime, não deixa de ser uma situação questionável do ponto de vista ético.

É admissível que o partido da ética republicana, que se considera o guardião do templo da III República, não se pronuncie sobre o elefante no meio da sala?»

«O PS e a Operação Marquês», Filipe Alves no Económico

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Um povo alheado e dependente, um poder corrupto, uma justiça amedrontada e um jornalismo manso

«Não se enganem: aquilo que ficámos a conhecer não foi a acusação de José Sócrates, mas a acusação de um regime inteiro. Um regime composto por um povo alheado e dependente, um poder corrupto, uma justiça amedrontada e um jornalismo manso. Sem esta triste conjugação de pobres qualidades, José Sócrates poderia sempre ter sido eleito em 2005, mas jamais seria reeleito em 2009. É evidente que existe gente indecorosa em qualquer parte do mundo, mas nos países bem frequentados as instituições não falecem todas ao mesmo tempo. Infelizmente, durante a era Sócrates, tudo faliu, até finalmente falir o país. Tirando duas ou três dúzias de teimosos que insistiram obsessivamente que o rei ia nu, demasiadas pessoas em lugares de responsabilidade ou não viram o que se estava a passar, por serem pouco espertas, ou não quiseram ver, por serem pouco honestas.

«Sócrates não merece cair sozinho», João Miguel Tavares no Público

12/10/2017

Pro memoria (358) - Razões para o PSD votar contra o orçamento

«Ora eu penso que este orçamento devia ser recusado por toda uma outra série de razões, o problema é que a oposição social-democrata não as assume como suas e por isso tem dificuldade em assumir uma alteridade que lhe permitisse estar à vontade na recusa do orçamento socialista. O adjectivo que escolhi ,“socialista”, não é meramente descritivo, é o socialismo em que vivemos impregnados, e que hoje se chama “estado-providência”, ou “modelo social europeu”, que nos condena à mediocridade e à gestão no fio da navalha da cada vez menos riqueza produzida.

O orçamento devia ser recusado porque precisamos vitalmente de outra coisa, precisamos de mais liberalismo, de mais liberdade económica, de mais espírito empresarial. Sem mais “crise” (das que falava Schumpeter) e sem mais “boa” insegurança, não somos capazes de mudar. O estado tudo faz para nos poupar a essa insegurança, e, como toda a Europa, afundamo-nos, pouco a pouco, na manutenção, geracionalmente egoísta, de um modelo social insustentável a prazo e que nos condena a definhar. É verdade que duvido que hoje alguém consiga ganhar uma eleição propondo o fim do conforto providencial, mas isso remete para a perda de margem de manobra democrática, face ao crescendo demagógico. E nem sequer vale a pena apelar á racionalidade, porque ela, a não ser para meia dúzia de iluminados normalmente sem fome e com emprego certo, aconselha a ter a pomba na mão a troca-la pelas duas que estão a voar. Estamos de facto, um pouco tramados, mas se calhar foi sempre assim na história.»

Os dois parágrafos anteriores (previamente publicados na Sábado, reproduzidos aqui e muito oportunamente recordados pelo Insurgente) datam de há 12 anos, referem-se ao orçamento do governo de José Sócrates e não foram escritos por um perigoso neoliberal. Foram escritos por um maoísta do PCP (m-l), várias vezes deputado pelo PSD, co-fundador do Clube da Esquerda Liberal, apoiante de Mário Soares e desde há 7 anos compagnon de route dos socialistas, ainda militante do PSD, e por último provável candidato a musa de Rui Rio.

A explicação mais óbvia para estas translações frequentes entre as luminárias do regime é de que as suas mudanças de fé política são menos mudança de cuecas por razões de tripas e mais mudança de casaca por razões de ego ou de conveniência.

ARTIGO DEFUNTO: O melhor líder para o PS(D) segundo o semanário de reverência (2) - Ecce homo

Continuação daqui.


Ecce homo Rio, segundo o panegírico que o semanário de reverência dedicou no seu diário ao «menino querido de um vasto conjunto da imprensa sediada em Lisboa, muito pelo modo como decidira afrontar o FC Porto». Melhor nem de encomenda.

11/10/2017

COMO VÃO DESCALÇAR A BOTA? (13) - É longa a lista

Outras botas para descalçar.

«É acusado de 31 crimes e teria 24 milhões na Suíça
Acabou a espera. Sócrates acaba de ser acusado de corrupção passiva, branqueamento de capitais, falsificação de documento e fraude fiscal qualificada. Salgado, Bava e Granadeiro também acusados


É longa lista dos que vão ter de descalçar a bota de Sócrates: Miguel Sousa Tavares, Clara Ferreira Alves, de entre uma lista imensa de jornalistas de causas, e sobretudo, entre eles, a "namorada" Fernanda Câncio. Entre os políticos a lista também é gigantesca. Destaquem-se os peões de brega como o Galamba, os que foram ministros do animal feroz, tais como o Santos «Gosto de Malhar na Direita» Silva e nomeadamente:

Saíste-me cá um merdas sem tomates...
Disclaimer:
Por escrever que há uma série de gente que deve começar a descalçar a bota José Sócrates, isso não significa que eu esteja a afirmar que o senhor engenheiro com esse nome é corrupto. Pelo contrário, temos de admitir que o senhor engenheiro com esse nome é um cidadão impoluto, embora não pareça, até que justiça o condene, se condenar e, ainda assim, só depois de terem sido julgados todos os recursos que inevitavelmente irão se apresentados com os quais nos entreterão durante uma década, pelo menos. Até lá, o senhor engenheiro com esse nome é alegadamente inocente.

Títulos inspirados (71) - Conforme a causa, para o jornalismo de causas a Constituição pode ser uma arma

«Rajoy usará a Constituição como uma arma contra a independência?»


O Público no seu melhor.

CASE STUDY: Afro-matemática, a affirmative action tropical

«Em mais um exemplo do nível de loucura e descompromisso com a qualidade acadêmica das universidades federais, a Universidade Federal do ABC (UFABC), a única realmente criada pelo ex-presidente Lula (PT-SP), criou duas novas disciplinas em seu Curso de Licenciatura em Matemática: Estudos Étnicos-raciais e Afro-matemática como Transformadora Social.

A proposta foi criada pelo “Coletivo Negro Vozes” para “combater o racismo na matemática”. De acordo com o coordenador do coletivo, Jorge Costa, “a disciplina de matemática é uma das responsáveis pela exclusão de negros e negras das escolas e consequentemente dos cursos superiores nas áreas tecnológicas”
»

(Fonte ILISP, via O Insurgente)

Megalomania

«O porta-voz do CDS-PP, João Almeida, defendeu hoje que os resultados das eleições autárquicas elevaram a fasquia ao partido, que se deve assumir como alternativa ao Governo do PS»

É bastante arrojado dito pelo porta-voz de um partido que teve nas últimas eleições autárquicas 2,59% dos votos nas suas listas e uma percentagem, que dificilmente ultrapassará um quarto, dos menos de 18% de eleitores que votaram em listas em que esse partido participou, ou seja, tudo por junto menos de 7% dos votos.

10/10/2017

ACREDITE SE QUISER: Animais de companhia



«PAN, Bloco e Os Verdes querem que animais possam entrar em restaurantes»

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (54) Unintended consequences (XV)

Outras marteladas.

Multiplicam-se as advertências sobre os efeitos das políticas não convencionais dos bancos centrais poderem desencadear a próxima crise financeira, algo para o qual temos vindo à chamar a atenção há uns cinco anos, pelo menos desde este post de 2012 (duas semanas antes do «whatever it takes» de Draghi): «ainda não saímos de uma e já estamos a trabalhar para criar a próxima. Vai acabar mal.»

O menos surpreendente dos avisos foi o de Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças de Merkel agora a caminho do Bundestag, cujas opiniões sobre disciplina fiscal são conhecidas, bem como as suas reservas quanto ao alívio quantitativo e às taxas baixas ou nulas adoptadas pelo BCE sob a batuta de Draghi. Em entrevista ao FT, Schäuble adverte para «o aumento dos riscos decorrentes da acumulação de mais e mais liquidez e o crescimento da dívida pública e privada» e o perigo de «encorajar novas bolhas».

John Mauldin conhecido analista financeiro, comentador do NYT e autor da newsletter Thoughts from the Frontline, esteve em Lisboa num encontro promovido pela Sociedade Francisco Manuel dos Santos e disse em entrevista ao negócios não ter dúvidas que uma nova crise chegará o que segundo ele não é necessariamente uma má notícia: porque «os políticos apenas fazem algo quando temos uma crise».

No mesmo encontro esteve Jean-Claude Trichet, antecessor de Draghi no BCE que deixou claro que o quantitative easing «não pode durar para sempre» nem substituir as reformas indispensáveis. No não pode durar para sempre está precisamente boa parte do problema como a próxima advertência mostra.

Por último, também a Economist, tendencialmente adepta do quantitative easing e do militantismo dos bancos centrais, publicou a semana passada um post no blogue Buttonwood cujo título diz tudo: «The next financial crisis may be triggered by central banks». Esse post cita um estudo do Deutsche Bank sobre o retorno de activos de longo prazo que mostra uma frequência crescente das crises nas últimas décadas e conclui que isso se deve ao abandono primeiro do padrão-ouro e mais tarde do sistema de câmbios fixos, permitindo aos governos desde meados dos anos 70 lidar com as crises económicas usando a política cambial, aumentando os desequilíbrios, com o crescimento constante da dívida pública e a consequente expansão do crédito e o subsequente colapso. Daí que uma nova crise possa estar prestes a surgir, apenas à espera de um trigger que pode ser um crash na dívida chinesa, o aumento do populismo ou a falta de liquidez nos mercados de obrigações ou, mais provavelmente, o fim das políticas intervencionistas dos bancos centrais.

09/10/2017

ESTADO DE SÍTIO: O Estado está novamente a inchar

Escrevi um dia que o CDS é um viveiro de socialistas eméritos que ao aproximar-se a terceira idade fazem o coming out. Dei como exemplos o professor Adriano Moreira, o professor Freitas do Amaral e o dr. Basílio Horta. Mas também poderia ter dado como exemplo o dr. Bagão Félix que recentemente emergiu nas páginas do Público partilhando com o professor Louçã em amável convivência a coluna «Tudo Menos Economia».

Esta introdução foi apenas para avalizar a conclusão insuspeita vinda do dr. Bagão Félix, expressa numa entrevista à Lusa aqui citada, sobre uma das consequências da governação dos seus correlegionários do PS: «o Estado está novamente a inchar»

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (104)

Outras avarias da geringonça.

Já está em marcha a retaliação dos comunistas pela derrota nas autárquicas. Jerónimo ameaça mais luta nas ruas, diz que não está amarrado a nenhum acordo, acusa o PS e o BE de hostilização e de mentiras. A Fenprof anuncia uma greve parcial dos professores a partir de 2 de Novembro se não forem atendidas as suas exigências. Professores aproveitam o 5 de Outubro e entoam cânticos ao «Marcelo amigo». Os polícias dizem que estão fartos. Depois de não se ter entendido com o ministério das Finanças sobre o descongelamento de carreiras na reunião da passada 6.ª Feira, a CGTP convocou uma greve da função pública para o dia 27.

08/10/2017

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (163) - O amigo do Costa (III)

Continuação de (I) e (II)

Em retrospectiva:

Diogo Lacerda Machado, o amigo do Costa, esteve envolvido no SIRESP, na compra dos helicópteros Kamov, na reversão da privatização da TAP, na resolução do caso dos lesados do BES, no acordo do CaixaBank com Isabel dos Santos, no caso dos lesados do Banif e na tentativa de solução do crédito malparado da banca.

Na parte que agora interessa, Lacerda Machado foi administrador da Geocapital que foi parceira da TAP na compra da Varig Engenharia e Manutenção, em 2005, saindo dois anos mais tarde. A Varig Engenharia e Manutenção é hoje parte integrante da TAP com o nome TAP Manutenção e Engenharia.

Rebobinando rapidamente:

As contas do 1.º semestre de 2017 da TAP evidenciaram um aumento de 3% dos prejuízos para 52 milhões apesar da facturação ter aumentado 11% para 1.254 milhões. Pronto, concluirá qualquer socialista encartado, estão a ver?, apesar de gerida pelos "privados" a TAP continua a perder dinheiro.

A sério? Tomemos o ano passado em que a TAP perdeu 27,7 milhões. Qual a origem dos prejuízos? Por coincidência na TAP Manutenção e Engenharia que perdeu 47,5 milhões em parte compensados pelos lucros na operação da TAP, prejuízos a somar às muitas centenas de milhões desde que por lá andaram as mãozinhas de Lacerda Machado e de outros socialistas (Almeida Santos, por exemplo).

07/10/2017

Dúvidas (207) - E se desta vez ele estiver certo?

Já inúmeras vezes aqui no (Im)pertinências o escrevemos: Nicolau Santos, o ideólogo do keynesianismo no semanário de reverência, o jornalista de causas socialistas várias, é o nosso pastorinho favorito da economia dos amanhãs que cantam. Também inúmeras vezes mostrámos que a fé que coloca nas suas causas é incomensuravelmente maior do que a sua capacidade de discernimento o que o conduz a inúmeros dislates, desde as vulgares promoções de empresas do regime que acabam falindo, até ao seu clímax (até agora) que foi o monumental barrete que lhe enfiou o vigarista Artur Baptista da Silva. Para mais exemplos podeis usar a etiqueta pastorinhos da economia que contém um bom número de posts que lhe são dedicados.

Se pensais que escrevo este post para malhar mais uma vez na criatura, estais enganados. Escrevo desta vez para louvar o seu discernimento por ter escrito um post no seu blogue «Keynesiano, graças a Deus» cuja leitura se recomenda, apesar de o seu título dizer quase tudo: «No seu próprio interesse, o PS não devia ter ganho as autárquicas».

E fê-lo logo no dia seguinte às eleições, ainda antes do camarada Jerónimo começar a fulminar o PS pelo descalabro dos comunistas, considerando pírrica a vitória dos socialistas - «verdadeiro hara-kiri do PS (...) não se percebe de todo porque apareceu o secretário-geral do PS todo ufano, ao final da noite de ontem, a afirmar que o PS tinha tido a maior vitória de sempre em eleições autárquicas. Se pensasse um pouco melhor, o dr. Costa devia era estar preocupadíssimo».

E se desta vez ele estiver certo? E se ele estiver outra vez errado, como indicia a sua fraca taxa de sucesso? Sim, porque pode muito bem acontecer não estar o dr. Costa preocupado e até pode estar aliviado pela perspectiva de trocar o camarada Jerónimo pelo dr. Rio.

ARTIGO DEFUNTO: O melhor líder para o PS(D) segundo o semanário de reverência



Não tenho a certeza se Rui Rio avança, mas não há a menor dúvida que se avançar tentará ser um peão de Costa com ambição de ser sucessor da muleta PCP (e da muleta BE se este se divorciar da geringonça), devidamente acarinhado pelos socialistas do PSD e pelo baronato (em parte confundem-se).

06/10/2017

Proposta de petição para demolição de vários símbolos do fascismo

Tomo nota da odiosa acção perpetrada por «um grupo de nacionalistas da extrema-direita» que tentou impedir uma manif pacífica de protesto com 43 anos de atraso contra o colonialismo simbolizado pela estátua do «esclavagista selectivo» padre António Vieira no largo Trindade Coelho em Lisboa. O funesto acontecimento foi aqui descrito no DN, esse lócus de jornalismo de causas, anteontem umas, ontem outras, hoje ainda outras, que já foi dirigido por José Saramago, um símbolo da imprensa livre.

Tomo nota e em conformidade completo a proposta de petição que apresentei em Agosto:


Quarenta e três anos depois da queda do fascismo ainda existem em Portugal monumentos glorificando o Estado Novo e o esclavagismo selectivo, insultando o Povo português e a memória de gerações de luta contra a ditadura e afrontando o espírito da democracia implantada pela Revolução do 25 Abril, obra do glorioso MFA em aliança com as Forças Democráticas e o Povo Português.

Comício na Fonte Luminosa no dia 19 de Julho de 1975 das forças da reacção em aliança com a Igreja
onde os líderes da Forças Progressistas foram chamados «paranóicos» e «dementados»

«Cerca de 15 manifestantes do grupo Descolonizando ameaçados 
por um grupo de nacionalistas da extrema-direita»

Nós os abaixo assinados, inspirados e identificados com a dinâmica progressista de remoção de símbolos do colonialismo, do supremacismo, da discriminação de géneros e de minorias, exigimos a demolição da Fonte Luminosa, símbolo do Estado Novo fascista, utilizado pelas forças anti-progressistas e reaccionárias para combater as conquistas do 25 de Abril e exigimos igualmente o desmantelamento da estátua do «esclavagista selectivo» padre António Vieira em Lisboa.

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: Here we go again (16)

«"O aumento dos gastos com pessoal sinaliza que as reformas para o emprego do setor público já não se destinam à redução de custos” — a frase é da Comissão Europeia e consta do sexto relatório de avaliação pós-programa de ajustamento português. Os peritos notam que os custos com pessoal e o número de funcionários públicos continuam a subir e avisam que são precisas medidas para manter o atual bom momento de recuperação.» (Fonte)

É tão notório que a CE não pode deixar de registar.

05/10/2017

A mentira como política oficial (36) - É possível enganar muitos durante muito tempo (mas não sempre)

«Há muito tempo que não se assistia a uma distância tão grande entre aquilo que se diz e aquilo que se faz. Ao ponto de todos nós estarmos concentrados na recuperação de rendimentos dos que ganham menos e nos esquecermos que, ao mesmo tempo, foi este Governo que acabou com as contribuições que recaíam sobre as pensões mais altas. Embora as contas sejam diferentes, o certo é que se repôs mais depressa esses rendimentos mais elevados do que os salários do sector privado que só agora poderão aspirar a um alívio fiscal.

(...)

É aliás irónico e ilustrativo, da fase de grande ilusão em que vivemos, que se diga que o PSD de Pedro Passos Coelho não tem políticas para o país quando na realidade tem sido o único a falar desses problemas. Podemos não gostar das soluções, mas não podemos dizer que não identifica os problemas e não apresenta uma via para os resolver. O mesmo não se pode dizer deste Governo que governa junto à costa, decidindo em função do que vai sendo a agenda mediática – agora é a habitação – e os segmentos de mercado eleitoral.»

«O adeus de Passos Coelho», Helena Garrido no Observador

04/10/2017

Saída limpa

Para dizer a coisa em poucas palavras, Passos Coelho estava politicamente moribundo desde que não foi capaz de encontrar ideias e um discurso alternativo à geringonça. Com os resultados das eleições autárquicas recebeu a certidão de óbito político. E a quem está morto, tratando-se morte física, o que há a fazer é enterrar o cadáver rapidamente. Nos outros casos há que encontrar um substituto, o que não é urgente, é importante. Embora para a maior parte dos portugueses tal distinção seja um pormenor, na realidade é um pormaior.

Quer nos casos de morte física, quer nos outros, é de bom tom dizer umas palavras de circunstância. No caso da morte física, geralmente ninguém tem coragem de dizer mal do morto. No caso de morte política, geralmente é o contrário.

Tratando-se de Passos Coelho, porventura o político mais odiado na última década, não precisamos de nos esforçar para dizer mal. Os seus inimigos, isto é o baronato e os socialistas ressabiados dentro do seu partido, por um lado, e os seus adversários, isto é os socialistas fora do seu partido, os comunistas e bloquistas, por outro, sem esquecer as legiões de jornalistas de causas ao serviço de uns e outros, já o fizeram bastamente.

Resta dizer que a falta de qualidade dos seus detractores em geral e os argumentos para a detracção durante os sete anos em que foi líder do PSD são a maior homenagem que lhe prestaram, agora que irá sair da cena política. Salientamos uma coragem pouco habitual nos nossos políticos e acrescentamos que teve uma saída limpa, o que não é dizer pouco.

Pertinente                            Impertinente

03/10/2017

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Não precisamos de dois partidos socialistas

«O problema do PSD não é Passos Coelho, mas este: o PS, desde o fim do governo de Cavaco Silva, transformou-se no partido do Estado e das clientelas do Estado, que são, neste como em anteriores regimes, a base do poder político em Portugal. Domina quem, a partir do Estado, tem meios para multiplicar e alimentar bocas. Nos últimos vinte anos, o PSD nunca teve esses meios. Apanhou sempre o lado mau do ciclo da governação, quando, após uma temporada de despesismo socialista, foi preciso congelar e cortar — em 2002 e em 2011. O PS pôde governar sozinho, em maioria ou em minoria, em ambiente geralmente de optimismo e consenso; o PSD teve de governar em coligação, no meio de toda a espécie de crispações. Previsivelmente, o PS emergiu como o “partido natural do governo”, o guardião do “sistema”, o abrigo dos interesses. A aliança de Ricardo Salgado com José Sócrates é a prova mais clara de como os poderes fácticos da sociedade portuguesa reconheceram os socialistas como interlocutores privilegiados.

A questão é saber se a sociedade portuguesa tem força para desejar outra coisa que não privilégios e benesses do Estado. Durante o ajustamento de 2011-2014, julgou-se que sim. Já se percebeu entretanto que não. Basta recordar a última campanha autárquica, e os subsídios, as casas, os benefícios fiscais prometidos em troca de votos.»

Excerto de «Passos Coelho, Ulisses e os porcos», Rui Ramos no Observador

Dito por outras palavras, o partido mais adequado para executar as políticas do PS é o PS e o país não precisa de dois partidos socialistas - um é suficiente. Ah, já me esquecia: o socialismo faz quase toda a gente feliz e, como disse a Thatcher, o único problema é que no final acaba o dinheiro dos outros. no nosso caso o dos "ricos" e/ou o dos credores. É por isso que só a realidade derrotará o PS. São séculos de história, senhores. É claro que para a realidade derrotar o socialismo é preciso que alguém ajude e é aí que surge a dúvida se Passos Coelho ajuda ou complica.

DIÁRIO DE BORDO: A superioridade do Estado Sucial face ao Estado Novo

O Estado Sucial que substituiu há 43 anos o Estado Novo criou uma dívida de 250 mil milhões de euros and counting ou mais de 130% do PIB. O Estado Novo em 48 anos, depois de uma guerra colonial de 13 anos, criou uma dívida de 13,6% do PIB isto é 10 vezes menor em termos relativos.

Lembrei-me de tudo isto ao fazer de manhã cedo o meu jogging e ver a fila de carros na Marginal em direcção a Lisboa a atingir a praia da Torre. Tomando como referência a situação antes da bancarrota socrático-socialista em 2011, estimo que quando a fila chegar a Carcavelos já estará visível no horizonte o próximo resgate, dependendo da maré – quando a maré desce é que se vê quem não tem calções, segundo Warren Buffett.

02/10/2017

DIÁRIO DE BORDO: Estórias do outro mundo (5) - As autárquicas vistas de Melmac

[Outras estórias do outro mundo: (1), (2), (3) e (4)]

Conheci Alf, aka Gordon Shumway, em pessoa, por assim dizer, no Verão de 2002, quando ele passava férias com os Tanners na Quinta da Balaia. A primeira vez que o vi teria uns 245 anos e corria atrás de um gato, um dos muitos que lhe atribuíram ter comido nas redondezas. A estadia em Portugal foi curta mas muita intensa - Alf apreciava e papava gatos algarvios com a mesma voracidade com que os Tanners degustavam feijoada de lingueirão. Tão intensa que Alf desde essa altura passou a interessar-se por tudo quanto respeitava a Portugal. 

A penúltima vez que Alf telefonou foi em 2011 a propósito do manifesto de um grupo de lunáticos (ele chamou-lhe outra coisa) a exigir «saber quem são os credores» (da dívida pública). Três anos mais tarde voltou a ligar, através do Skype que em Melmac se chama Skalpe, depois de ter lido um artigo do Dr. Mário Soares, então ainda não falecido, que Alf acreditava ter sido raptado por alienígenas do planeta Kepler-186f e devolvido à terra com alterações de hardware para escrever o celebrado artigo «A crise e Portugal» no DN (já então um paradigma da imprensa independente).

Desta vez Alf ligou-me através do WhatsApp que em Melmac se chama WhatheFack. Aliás, foi com o nome desta aplicação que Alf disparou ... se passou com as vossas eleições? O DN escreve na 1.ª página «PSD esmagado», o Público «Derrocada», o ionline «Costa o Conquistador», o CM «Costa arrasa Passos Coelho» e por aí fora. Foi isso mesmo, respondi, tentando explicar a hecatombe.

Hecatombe? questionou Alf. Sim, vê por exemplo a 1.ª página do DN que mostra o PS com 37,82% e o PSD 16,07%, expliquei. Homem, isso é o resultado do PSD sozinho. Com coligações tem 28,1% e em conjunto com o CDS têm 31,8% e só perdeu 0,7% relativamente a 2013. E o PS só teve mais 1,5%.

OK, disse para mudar de assunto, mas isto eram eleições locais e o que interessa são os resultados das câmaras e aí foi mesmo uma hecatombe. Em Lisboa o PSD perdeu 11,2%... E o PS perdeu 8,9% e a direita ganhou 4%, interrompeu Alf.  OK, disse tentando outra vez, mas o PSD de 106 câmaras perdeu 10. E o PCP que Costa disse que não tinha tido uma derrota perdeu o mesmo número que no caso dos komunas (é assim que ele fala, com k) é um terço?

Ganhando embalagem Alf debita: das 20 capitais de distrito, o PSD tinha 8… e ficou com 8. Em 20, subiu a votação em 9 e desceu em 11. Nas 20 câmaras, a média simples de votos era de 31,89%. Nestas eleições até agora foi de 31,82%. Uma queda de 0,07%. Achei estranha tanta erudição autárquica e confirmei mais tarde que ele também lê o Insurgente. Ah e há mais, acrescentou, o PS perdeu 10 câmaras, 7 para o PSD e 3 para PSD-CDS.

Foi nesta altura que chutei para o lado e comecei a perguntar aos gritos ainda estás aí Alf? Estás-me a ouvir. Não ouço nada. Deve ser uma aurora boreal que está a interferir. Vou ter de desligar.

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (103)

Outras avarias da geringonça.

Depois de um desmentido do MAI, o mesmo que ainda hoje não sabe o que se passou em Pedrógão Grande, sobre a alegada falta de diplomas dos dirigentes da Protecção Civil, o jornal SOL revelou que houve resmas de dirigentes sem licenciatura, apesar desta ser obrigatória desde 2004, e outros com licenciaturas pelo método Relvas - um deles obteve equivalências em 31 das 34 disciplinas.

Falando de equivalências, a CRESAP (desde Abril com uma nova direcção nomeada pelo governo de Costa) aprovou 167 candidatos a cargos dirigentes na administração pública sem quaisquer reservas ou, como escreveu o semanário de reverência, «com zero chumbos» devido à excelência dos candidatos, evidentemente. Os mal-intencionados dirão que a coisa foi ajeitada para acomodar os boys aos jobs.

01/10/2017

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (53) Unintended consequences (XIV)

Outras marteladas.

Hesitei entre incluir este post nesta série, sem dúvida a mais apropriada, ou incluí-lo na série Acredite se quiser. Depois de vários anos de injecções de alívio quantitativo e juros tendencialmente nulos, cujo efeito foi evanescente no crescimento da economia, que só começou a animar-se quando precisamente as medidas do BCE começaram a atenuar-se, Mario Draghi parece querer substituir essas medidas não convencionais - a chamada bazuca de Draghi - por... aumentos de salário bem acima da inflação.

Em breve substituída por aumentos de salário

Pelo menos foi assim que o Financial Times interpretou o seu lobbying e se propôs explicar aos leitores «Why the ECB wants unions to increase wage demands». Daí que há quem considere ser uma boa notícia para o BCE se o IG Metall, o sindicato alemão para a indústria eléctrica e metalúrgica, colocar a fasquia das negociações em 3 ou 4%. Whatever it takes, acrescentará o Mario. Por exemplo, it takes perda de competitividade. como as taxas de juro zeradas takes biliões de investimento em projectos com TIR inferior às taxas de juro históricas.