«(...) poderes revolucionários – que querem derrubar a ordem estabelecida – e ao facto de não aceitarem compromissos a não ser como pausa numa estratégia inexorável.
Esse tipo de poderes pode negociar, mas não com a mesma lógica dos outros, pois não aceitam nunca as regras do jogo.
Como escreveu Cooper, “os que não compreendem este risco caem numa armadilha, como Neville Chamberlain”, o primeiro-ministro britânico que assinou o Acordo de Munique, e a quem logo a seguir e com presciência Churchill disse que “entre a desonra e a guerra, escolheste a desonra e terás a guerra”.
Esta minha reflexão não estava a ser feita a pensar na cena internacional, mas na mais prosaica relação entre o PSD e o CHEGA. (...)
O CHEGA é o que no sistema político internacional se chamaria uma potência desafiante ou ascendente. Está na fase inicial de um processo em que chegou agora a uma encruzilhada.
Ninguém pode - sem especulação excessiva e por isso sem rigor – antecipar a estrada que Ventura vai seguir. Talvez nem ele saiba ainda.
Por isso a solução para o PSD é aguardar até saber qual a estrada em que entrou e se já chegou a um ponto de não retorno. Até lá uma verdadeira negociação é um risco de se repetir Chamberlain.
Mas é preciso que Ventura saiba que quando e se passar a ser claro que o CHEGA aceita a ordem estabelecida, será possível um processo de negociação. Chama-se a isto gerar um sistema de incentivos.
E, por isso também, deve ficar claro que o PSD não escolherá a desonra para evitar uma guerra e que só pode alcançar uma boa paz quem estiver disposto a fazer uma boa guerra. E isso também é um sistema, aqui de incentivos negativos.»
José Miguel Júdice (no Expresso) de quem me afastam as escolhas políticas e me merecem consideração a lucidez, a honestidade intelectual e a independência